quinta-feira, 15 de março de 2012

Primavera branca e cinzenta

Monte Cativo
por ANTÓNIO CERVEIRA PINTO 

enxotei os pombos e o seu insuportável arrulhar
o som e o voo das gaivotas que povoam agora o Monte Cativo são mais toleráveis
vê-las tão perto, o esforço quando ascendem,
vê-las tão perto aproveitar e gozar as correntes de ar,
vê-las assim a voar
tem sido a maior descoberta nesta viagem a um passado que me faz sentir, pela primeira vez, o tempo...

parecem querer deixar o mar falho de peixe
e acabar na cidade comendo pombos
e eu a vê-las voar de manhã, com o Sol pelo ombro, olhando o mar e o petroleiro que espera autorização para atracar...
por quanto tempo mais?
virado a sul e a poente, no alto da cidade galega, respiro aqueles volumes de vida e a brisa do mar,
aquecido por um Sol que dá que pensar, saudades e um resto de ser

com uma faca bem afiada
retiro a película fina do limão
para recuperar o perfume do seu óleo
retiro depois a fibra branca
espremo o limão
copo, água, fibra e perfume
bebo lentamente, olhando o Sol e as gaivotas que não se cansam das táticas nupciais
gritam, encantam, tentam, namoram, olham-me às vezes nos olhos, tão perto passam diante da minha filosofia de ver
só não sei onde finalmente fornicam!

Copyright © 2012 by António Cerveira Pinto 

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